sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Djavan



Djavan Caetano Viana, nascido em Maceió, capital de Alagoas, aos 27 de janeiro de 1949, é um cantor, compositor, produtor musical e violonista brasileiro.

Filho de uma mãe afro-brasileira e de um pai ambulante. Sua mãe, lavadeira, entoava canções de Ângela Maria e Nelson Gonçalves.

Djavan poderia ter sido jogador de futebol. Lá pelos 11, 12 anos, o garoto Djavan Caetano Viana divide seu tempo e sua paixão entre o jogo de bola nas várzeas de Maceió e o equipamento de som quadrifônico da casa de Dr. Ismar Gatto, pai de um amigo de escola.

Da primeira paixão, despontava como meio-campo no time do CSA, onde poderia ter feito até carreira profissional. Mas é na viagem sonora pela coleção de discos do Dr. Ismar, que para o pequeno alagoano parecia conter toda a música do mundo, que desponta um artista: o compositor, cantor, violonista e arranjador Djavan.

Nascido em 27 de janeiro de 1949, em família pobre, aprende violão sozinho, nas deficientes cifras de revistas do jornaleiro. Aos 18, já anima bailes da cidade com o conjunto Luz, Som, Dimensão (LSD). Não demora a ter certeza: precisa compor. Aos dezenove anos deixou definitivamente o futebol e passou a dedicar-se apenas à música.

Aos 23, chega ao Rio de Janeiro para tentar a sorte no mercado musical. É crooner de boates famosas - Number One e 706. Com a ajuda de Edson Mauro, radialista e conterrâneo, conhece João Mello, produtor da Som Livre, que o leva para a TV Globo. Passa a cantar trilhas sonoras de novelas, para as quais grava músicas de compositores consagrados como "Alegre Menina" (Jorge Amado e Dorival Caymmi), da novela "Gabriela"; e "Calmaria e Vendaval" (Toquinho e Vinícius de Moraes), da novela "Fogo sobre Terra".

Em três anos, nas horas vagas do microfone, compõe mais de 60 músicas, de variados gêneros. Com uma delas, "Fato Consumado", tira segundo lugar no Festival Abertura, realizado pela Rede Globo em 1975, e chega ao estúdio da Som Livre . De lá sai com seu primeiro disco, das mãos do mítico (de Carmen Miranda a Tom Jobim) produtor Aloysio de Oliveira. "A voz, o violão, a música de Djavan", de 1976, é um disco de samba sacudido, sincopado e diferente de tudo que se fazia na época. Visto hoje, este trabalho não marca apenas a estreia de Djavan. Torna-o figura incontornável na história da música brasileira.

O seu primeiro álbum trouxe o "carro-chefe": "Flor de Lis" que se torna um grande hit nas rádios. Além dos sucessos: "Flor de Lis" e "Fato Consumado", o álbum mostra outras composições que ganharam reconhecimento entre críticos e fãs: "Maria das Mercedes", "Embola Bola", "Para-Raio", "E Que Deus Ajude", etc.

Álbuns

1976 - Djavan (A voz - o violão - a música de Djavan)
1978 - Djavan
1980 - Alumbramento
1981 - Seduzir
1982 - Luz
1984 - Lilás
1986 - Meu Lado
1987 - Não É Azul, Mas É Mar
1989 - Oceano
1992 - Coisa de Acender
1994 - Novena
1996 - Malásia
1998 - Bicho Solto
1999 - Djavan Ao Vivo
2001 - Milagreiro
2004 - Vaidade
2005 - Na pista etc
2007 - Matizes
2010 - Ária



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Silvio Caldas



Sílvio Antônio Narciso de Figueiredo Caldas nascido no Rio de Janeiro - RJ aos 23 de maio de 1908 e falecido em Atibaia -SP aos 3 de fevereiro de 1998) foi um cantor e compositor brasileiro.

Seu primeiro sucesso foi o samba de Ari Barroso intitulado Faceira (1931). Desde então, consagrou-se como um dos maiores cantores brasileiros. Chão de estrelas (1937), em parceria com Orestes Barbosa, foi um de seus maiores êxitos.

Dono de timbre inconfundível, que lhe valeu a fama de grande seresteiro, é conhecido também por alcunhas carinhosas, como Caboclinho querido, A voz morena da cidade ou Titio.

Sílvio era um grande amigo do pai da cantora Maysa, e foi ele que a ensinou a tocar violão.

Sucessos:

As Pastorinhas, João de Barro e Noel Rosa (1938)
Acorda, Escola de Samba, Benedito Lacerda e Herivelto Martins (1935)
Boneca, Aldo Cabral e Benedito Lacerda (1934)
Chão de Estrelas, de sua autoria c/Orestes Barbosa (1937)
Como os Rios Que Correm pro Mar, Custódio Mesquita e Evaldo Ruy (1943)
Da Cor do Pecado, Bororó (1939)
Deusa da Minha Rua, Jorge Faraj e Newton Teixeira (1939)
Faceira, Ari Barroso (1931)
Florisbela, Frazão e Nássara (1939)
Inquietação, Ari Barroso (1934)
Lenço no Pescoço, Wilson Batista (1933)
Maria, Ari Barroso e Luiz Peixoto (1939)
Mimi, Uriel Lourival (1933)
Minha Casa, Joubert de Carvalho (1946)
Minha Palhoça, J. Cascata (1935)
Modinha, Jaime Ovalle e Manuel Bandeira (1943)
Morena Boca de Ouro, Ari Barroso (1940)
Mulher, Custódio Mesquita e Sadi Cabral (1940)
Na Aldeia, de sua autoria c/Caruzinho e De Chocolat (1933)
Na Baixa do Sapateiro, Ari Barroso (1939)
O Telefone do Amor, Benedito Lacerda e Jorge Faraj (1934)
Obrigado, Doutor, Nássara e Roberto Martins, c/acompanhamento da Orquestra Tabajara (1950)
Por Causa dessa Cabocla, Ari Barroso e Luiz Peixoto (1934)
Professora, Benedito Lacerda e Jorge Faraj (1938)
Quando Eu Penso na Bahia, Ari Barroso e Luiz Peixoto, duo c/Carmen Miranda (1938)
Segura Esta Mulher, Ari Barroso (1933)
Serenata, de sua autoria c/Orestes Barbosa (1934)
Três Lágrimas, Ari Barroso (1940)
Velho Realejo, Custódio Mesquita e Sadi Cabral (1940)
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADlvio_Caldas

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Benedito Lacerda


Benedicto Lacerda, nascudi em Macaé - RJ em 14 de março de 1903 e falecido na cidade do Rio de Janeiro em 16 de fevereiro de 1958, foi um compositor, flautista e maestro brasileiro.

Filho da lavadeira Dona Lousada, Benedicto sempre foi muito ágil em suas questões. Criança ainda, vai com a mãe morar na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro do Estácio. Benedicto cresceu num ambiente de muitos Chorões e Sambistas. Cresceu ao lado de Bide, Noel Rosa, Ismael… Mais tarde Benedito já em idade de servir se alista e passa a pertencer a banda da corporação tocando bumbo, uma vez que não conhecia Música na pauta. Nessa época estuda musica pra valer e logo passa a tocar flauta na banda. Em pouco tempo no posto de flautista da corporação passa numa prova em primeiro lugar para flautista de primeira classe ao tocar toda a parte de flauta do "Guarany" de Carlos Gomes.

Benedicto ficou cinco anos na carreira militar, e, em 1927 pediu baixa e mergulhou música popular. Em 1928 foi tocar com o grupo regional Boêmios da Cidade, acompanhando Josephine Baker, tocando em cinemas, orquestras de teatros, dancings, cabarets. Atuou também como saxofonista em algumas orquestras de jazz.

Ao findar os anos vinte e iniciar a década de 1930 Benedito Lacerda organizou um grupo com ritmos brasileiros, batizado de Gente do Morro. O "Gente do Morro" caracterizava-se pelos efeitos de percussão, convensões espertíssimas e solos de flauta. O grupo durou pouco e fez uma viagem á Campos acompanhando Noel Rosa. Como o "Gente do Morro" não vingou Benedito chamou o Horondino do violão (Dino Sete Cordas), que era do "Gente do Morro", e Canhoto do Cavaco e começaram a arregimentar mússicos para trabalhar com eles era o embrião do Conjunto Regional Benedito Lacerda. Com seu regional acompanhou nomes como Carmen Miranda, Luiz Barbosa, Mário Reis Francisco Alves, Sílvio Caldas, além de atuar com êxito como compositor.

Na década de 1940, tocou nos cassinos que agregavam a música nacional e perpetuou uma série de gravações antológicas em parceria de flauta e sax com Pixinguinha, privilegiando o repertório de choro. Por conta do trabalho que a dupla empreendeu em cerca de 40 gravações mais as edições de músicas e lançamentos de álbuns de partituras Benedito fez com que a hipoteca da casa de Pixinguinha fosse paga e salvou o mestre de ser despejado. Em sinal de gratidão e por motivos de contrato, São Pixinguinha transformou Bené em parceiro de pérolas como Sofres por que queres, Naquele tempo e Um a zero (esta feita muito antes por ocasião do gol de Friedenreich no Campeonato de Futebol Sul-Americano de 1919). Mas o que importa é destacar os arranjos e contrapontos executados pela dupla, que revolucionaram a instrumentação brasileira e influenciaram até hoje os novos talentos musicais.

Foi compositor de carnaval premiado e pela atuação como fundador da União Brasileira de Compositores (UBC) e dirigente da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (SBACEM). Morreu no Rio de Janeiro, vítima de câncer de pulmão, antes de completar 55 anos.

Principais sucessos:

A jardineira, com Humberto Porto - Orlando Silva (1939)
A Lapa, com Herivelto Martins - Francisco Alves (1949)
Acerta o passo, com Pixinguinha (1949)
Acorda, escola de samba!, com Herivelto Martins - Sílvio Caldas (1937)
Acho-te uma graça, com Carvalhinho e Haroldo Lobo - César de Alencar & Heleninha Costa (1952)
Ainda me recordo, com Pixinguinha (1947)
Aliança partida, com Roberto Martins - Orlando Silva (1937)
Amigo infiel, com Aldo Cabral - Orlando Silva (1938)
Amigo leal, com Aldo Cabral - Orlando Silva (1937)
Boneca, com Aldo Cabral - Sílvio Caldas (1935)
Brasil, com Aldo Cabral - Francisco Alves & Dalva de Oliveira (1939)
Carnaval da minha vida, com Aldo Cabral - Francisco Alves (1942)
Cheguei, com Pixinguinha (1946)
Chorei, com Pixinguinha (1942)
Coitado do Edgar!, com Haroldo Lobo - Linda Batista (1945)
Despedida de Mangueira, com Aldo Cabral - Francisco Alves (1939)
Devagar e sempre, com Pixinguinha (1949)
Dinorá, com José Ferreira Ramos (1935)
Duvi-d-o-dó, com João Barcellos - Carmen Miranda (1936)
E o vento levou, com Herivelto Martins - Bando da Lua (1940)
Ele e eu, com Pixinguinha (1946)
Espanhola, com Haroldo Lobo - Aracy de Almeida (1946)
Espelho do destino, com Aldo Cabral - Orlando Silva (1939)
Eva querida, com Luiz Vassalo - Mário Reis (1935)
Falta um zero no meu ordenado, com Ary Barroso - Francisco Alves (1948)
Fica doido varrido, com Eratóstenes Frazão - Sílvio Caldas (1945)
Ingênuo, com Pixinguinha (1946)
Lero-lero, com Eratóstenes Frazão - Orlando Silva (1941)
Naquele tempo, com Pixinguinha (1946)
Normalista, com David Nasser - Nelson Gonçalves (1949)
Número um, com Mário Lago - Orlando Silva (1939)
O gato e o canário, com Pixinguinha (1949)
Os oito batutas, com Pixinguinha (1947)
Pedro, Antônio e João, com Oswaldo Santiago - Dalva de Oliveira (1940)
Pombo-correio, com Darcy de Oliveira - Gilberto Alves(1942)
Proezas de Solon, com Pixinguinha (1946)
Professora, com Jorge Faraj - Sílvio Caldas (1938)
Querido Adão, com Oswaldo Santiago - Carmen Miranda (1936)
Sabiá de Mangueira, com Eratóstenes Frazão - Nelson Gonçalves (1944)
Segura ele, com Pixinguinha (1946)
Seresteiro, com Pixinguinha (1946)
Seu Lourenço no vinho, com Pixinguinha (1948)
Sofres porque queres, com Pixinguinha (1946)
Soluços, com Pixinguinha (1949)
Um a zero, com Pixinguinha (1946)
Um caboclo abandonado (Rolinha triste), com Herivelto Martins - Sílvio Caldas (1936)
Urubatã, com Pixinguinha (1946)
Verão no Havaí, com Haroldo Lobo - Francisco Alves (1944)
Voltei pro morro, com Darcy de Oliveira - Ademilde Fonseca (1942)
Vou vivendo, com Pixinguinha (1946)

Fontes: Pesquisador Rúben Pereira - Rubinho / Macaé RJ
http://pt.wikipedia.org/wiki/Benedito_Lacerda

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Adoniran Barbosa



João Rubinato, nascido aos 06 de agosto de 1910 em Valinhos-SP, e falecido em São Paulo-SP, aos 23 de novembro de 1982. Foi um compositor, cantor, humorista e ator brasileiro. Rubinato representava em programas de rádio diversos personagens, entre os quais, Adoniran Barbosa, o qual acabou por se confundir com seu criador dada a sua popularidade frente aos demais. No último dia 06 comemorou-se seu aniversário com várias homenagens por todo o Brasil, em todas as emissoras de TV.

Adoniran era filho de Ferdinando e Emma Rubinato, imigrantes italianos da localidade de Cavárzere, província de Veneza. Aos dez anos de idade, sua certidão de nascimento foi adulterada para que o ano de nascimento constasse como 1910 possibilitando que ele trabalhasse de forma legalizada: à época a idade mínima para poder trabalhar era de doze anos.

Abandonou a escola cedo, pois não gostava de estudar. Necessitava trabalhar, para ajudar a família numerosa, pois Adoniran tinha sete irmãos. Procurando resolver seus problemas financeiros, os Rubinato viviam mudando de cidade. Moram primeiro em Valinhos, depois Jundiaí, Santo André e finalmente São Paulo.

Em Jundiaí, conheceu seu primeiro ofício: entregador de marmitas. Adoniran teve um longo aprendizado, num arco que foi de marmiteiro às frustrações causadas pela rejeição de seu talento. Queria ser artista – escolheu a carreira de ator. Procurou de várias maneiras fazer seu sonho acontecer. Tentou, antes do advento do rádio, o palco, mas foi sempre rejeitado. Sem padrinhos e sem instrução adequada, o ingresso, nos teatros, como ator, foi para sempre abortado. O samba, no início da carreira, teve para ele caráter acidental. Escolado pela vida, sabia que o estrelato e o bom sucesso econômico só seriam alcançados na veiculação de seu nome na caixa de ressonância popular que era o rádio.

O magistral período das rádios, também no Brasil, criou diversas modas, mexeu com os costumes, inventou a participação popular – no mais das vezes, dirigida e didática. Tinham elas um poder e extensão pouco comuns para um país rural como o nosso. Inventavam a cidade, popularizavam o emprego industrial e acendiam os desejos de migração interna e de fama. Enfim, no país dos bacharéis, médicos e párocos de aldeia, a ascensão social buscava outros caminhos e podi-se já sonhar com a meteórica carreira de sucesso que as rádios produziam. Três caminhos podiam ser trilhados: o de ator, o de cantor ou o de locutor.

Adoniran, aprendiz das ruas, percebeu as possibilidades que se abriam a seu talento. Queria ser ator, popularizar seu nome e ganhar algum dinheiro, mas a rejeição anterior o levou a outros caminhos. Sua inclinação natural no mundo da música foi a composição mas, nesse momento, o compositor era um mero instrumento de trabalho para os cantores, que compravam a parceria e, com ela, faziam nome e dinheiro. Daí sua escolha ter recaido não sobre a composição, mas sobre a interpretação.

Entregou-se ao mundo da música. Buscou conquistar seu espaço como cantor – tinha boa voz e poderia tentar os diversos programas de calouro. Já com o nome de Adoniran Barbosa – tomado emprestado a um companheiro de boêmia e de Luiz Barbosa, cantor de sambas, que admirava – João Rubinato estreia cantando um samba brejeiro de Ismael Silva e Nilton Bastos, o "Se você jurar". Foi gongado, mas insistiu e e voltou novamente ao mesmo programa; aí cantando o belo samba de Noel Rosa, "Filosofia", que lhe abriu as portas das rádios e ao mesmo tempo serviu como mote para suas composições futuras.

O mergulho que o sambista faria na linguagem, suas construções linguísticas, pontuadas pela escolha exata do ritmo da fala paulistana, iria na contramão da própria história do samba. Os sambistas sempre procuraram dignificar sua arte com um tom sublime, o emprego da segunda pessoa, o tom elevado das letras, que sublimavam a origem miserável da maioria, e funcionavam como a busca da inserção social. Tudo era uma necessidade urgente, pois as oportunidades de ascensão social eram nenhumas e o conceito da malandragem vigia de modo coercitivo. Assim, movidos pelos mesmos desejos que tinha Adoniran de se tornar intérprete e não compositor, e a partir daí conhecido, os compositores de samba, entre uma parceria vendida aqui e outra ali, deram o testemunho da importância que a linguagem assumiu como veículo social.

Mas a escolha de Adoniran foi outra, seu mergulho também outro. Aproveitando-se da linguagem popular paulistana – de resto do próprio país – as músicas dele eram o retrato exato desta linguagem e, como a linguagem determinavam o próprio discurso, os tipos humanos que surgiram deste discurso representaram um dos painéis mais importantes da cidadania brasileira. Os despejados das favelas, os engraxates, a mulher submissa que se revolta e abandona a casa, o homem solitário, social e existencialmente solitário, estão intactos nas criações de Adoniran, no humor com que descreve as cenas do cotidiano. A tragédia da exclusão social dos sambistas se revelou como a tragicômica cena de um país que subtraia de seus cidadãos a dignidade.

O seu primeiro sucesso como compositor virou canção obrigatória das rodas de samba, das casas de show: Trem das Onze. É bem possível que todo brasileiro conheça, senão a música inteira, ao menos o estribilho, que se torna intemporal. Adoniran alcançou, então, o almejado sucesso que, entretanto, durou pouco e não lhe rendeu mais que uns minguados trocados de direitos autorais. A música, que já havia sido gravada pelo autor em 1951 e não fizera sucesso ainda, foi regravada novamente pelos “Demônios da Garoa”, conjunto musical de São Paulo (conhecida como a terra da garoa, da neblina, daí o nome do grupo). Embora o conjunto fosse paulista, a música aconteceu primeiramente no Rio de Janeiro. E aí sim, o sucesso foi retumbante.

Como acontecera com os programas escritos por Osvaldo Moles, que deram a Adoniran a medida exata da estética a ser seguida, o samba inspirou Osvaldo a criar um quadro para a rádio, que se chamava História das Malocas, com um personagem, que faz sucesso, o Charutinho. De novo ator, Adoniran, tendo provado o sucesso como compositor, não mais se afastou da composição.

Entre a tentativa de carreira nas rádios paulistas e o primeiro sucesso, Adoniran trabalhou duro, casou-se duas vezes e frequentou, como boêmio, a noite. Nas idas e vindas de sua carreira teve de vencer várias dificuldades. O trabalho nas rádios brasileiras foi pouco reconhecido e financeiramente instável, muitos passaram anos nos seus corredores e tiveram um fim de vida melancólico e miserável. O veículo que encantou multidões, que fez de várias pessoas ídolos foi também cruel como a vida; passado o sucesso que, para muitos, seria apenas nominal, o ostracismo e a ausência de amparo legal levou vários cantores, compositores e atores a uma situação de impensável penúria.

Adoniran sabia disto, mas mesmo assim seu desejo calava mais fundo. O primeiro casamento não durou um ano; o segundo, a vida toda: Matilde. De grande importância na vida do sambista, Matilde sabia com quem convivia e não só prestigiou sua carreira como o incentivou a ser quem foi e como era, boêmio, incerto e em constante dificuldade. Trabalhou também fora e ajudou o sambista nos momentos difíceis, que foram constantes. Adoniran viveu para o rádio, para a boêmia e para Matilde.

Numa de suas noitadas, de fogo, perdeu a chave de casa e não houve outro jeito senão acordar Matilde, que se aborreceu. O dia seguinte foi repleto de discussão, mas Adoniran era compositor e dando por encerrado o episódio, compõe o samba Joga a chave.

Dono de um repertório variado de histórias, o sambista não perdia a vez de uma boa blague. Certa vez, quando trabalhava na rádio Record, onde ficou por mais de trinta anos, resolveu, após muito tempo ali, pedir um aumento. O responsável pela gravadora disse-lhe que iria estudar o aumento e que Adoniran voltasse em uma semana para saber dos resultados do estudo... quando voltou, obteve a resposta de que seu caso estava sendo estudado. As interpelações e respostas, sempre as mesmas, duraram algumas semanas... Adoniran começava se irritar e, na última entrevista, saiu-se com esta: “Tá certo, o senhor continue estudando e quando chegar a época da sua formatura me avise..”

Nos últimos anos de vida, com o enfisema avançando, e a impossibilidade de sair de casa pela noite, o sambista dedicou-se a recriar alguns dos espaços mágicos que percorreu na vida. Gravou algumas músicas ainda, mas com dificuldade – a respiração e o cansaço não lhe permitiam muita coisa mais – dá depoimentos importantes, reavaliando sua trajetória artística e passou a compor pouco.

Inventou para si uma pequena arte, com pedaços velhos de lata, de madeira, movidos a eletricidade. São rodas-gigante, trens de ferro, carrosséis. Vários e pequenos objetos da ourivesaria popular – enfeites, cigarreiras, bibelôs... Fiel até o fim à sua escolha, às observações que colhe do cotidiano, criaram um mundo mágico.

Adoniran Barbosa morreu em 1982, aos 72 anos de idade.

Principais composições
Malvina, 1951
Saudosa maloca, 1951
Joga a chave, 1952
Samba do Arnesto, 1953
As mariposas, 1955
Iracema, Adoniran Barbosa, 1956
Apaga o fogo Mané, 1956
Bom-dia tristeza, 1958
Abrigo de vagabundo, 1959
No morro da Casa Verde, 1959
Prova de carinho, 1960
Tiro ao Álvaro, 1960
Luz da light, 1964
Trem das onze, 1964
Trem das Onze com Demônios da Garoa, 1964
Aguenta a mão, 1965
Samba italiano, 1965
Tocar na banda, 1965
Pafunça, 1965
O casamento do Moacir, 1967
Mulher, patrão e cachaça, 1968
Vila Esperança, 1968
Despejo na favela, 1969
Fica mais um pouco, amor, 1975
Acende o candeeiro, 1972