Mostrando postagens com marcador Adoniran Barbosa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Adoniran Barbosa. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Adoniran Barbosa



João Rubinato, nascido aos 06 de agosto de 1910 em Valinhos-SP, e falecido em São Paulo-SP, aos 23 de novembro de 1982. Foi um compositor, cantor, humorista e ator brasileiro. Rubinato representava em programas de rádio diversos personagens, entre os quais, Adoniran Barbosa, o qual acabou por se confundir com seu criador dada a sua popularidade frente aos demais. No último dia 06 comemorou-se seu aniversário com várias homenagens por todo o Brasil, em todas as emissoras de TV.

Adoniran era filho de Ferdinando e Emma Rubinato, imigrantes italianos da localidade de Cavárzere, província de Veneza. Aos dez anos de idade, sua certidão de nascimento foi adulterada para que o ano de nascimento constasse como 1910 possibilitando que ele trabalhasse de forma legalizada: à época a idade mínima para poder trabalhar era de doze anos.

Abandonou a escola cedo, pois não gostava de estudar. Necessitava trabalhar, para ajudar a família numerosa, pois Adoniran tinha sete irmãos. Procurando resolver seus problemas financeiros, os Rubinato viviam mudando de cidade. Moram primeiro em Valinhos, depois Jundiaí, Santo André e finalmente São Paulo.

Em Jundiaí, conheceu seu primeiro ofício: entregador de marmitas. Adoniran teve um longo aprendizado, num arco que foi de marmiteiro às frustrações causadas pela rejeição de seu talento. Queria ser artista – escolheu a carreira de ator. Procurou de várias maneiras fazer seu sonho acontecer. Tentou, antes do advento do rádio, o palco, mas foi sempre rejeitado. Sem padrinhos e sem instrução adequada, o ingresso, nos teatros, como ator, foi para sempre abortado. O samba, no início da carreira, teve para ele caráter acidental. Escolado pela vida, sabia que o estrelato e o bom sucesso econômico só seriam alcançados na veiculação de seu nome na caixa de ressonância popular que era o rádio.

O magistral período das rádios, também no Brasil, criou diversas modas, mexeu com os costumes, inventou a participação popular – no mais das vezes, dirigida e didática. Tinham elas um poder e extensão pouco comuns para um país rural como o nosso. Inventavam a cidade, popularizavam o emprego industrial e acendiam os desejos de migração interna e de fama. Enfim, no país dos bacharéis, médicos e párocos de aldeia, a ascensão social buscava outros caminhos e podi-se já sonhar com a meteórica carreira de sucesso que as rádios produziam. Três caminhos podiam ser trilhados: o de ator, o de cantor ou o de locutor.

Adoniran, aprendiz das ruas, percebeu as possibilidades que se abriam a seu talento. Queria ser ator, popularizar seu nome e ganhar algum dinheiro, mas a rejeição anterior o levou a outros caminhos. Sua inclinação natural no mundo da música foi a composição mas, nesse momento, o compositor era um mero instrumento de trabalho para os cantores, que compravam a parceria e, com ela, faziam nome e dinheiro. Daí sua escolha ter recaido não sobre a composição, mas sobre a interpretação.

Entregou-se ao mundo da música. Buscou conquistar seu espaço como cantor – tinha boa voz e poderia tentar os diversos programas de calouro. Já com o nome de Adoniran Barbosa – tomado emprestado a um companheiro de boêmia e de Luiz Barbosa, cantor de sambas, que admirava – João Rubinato estreia cantando um samba brejeiro de Ismael Silva e Nilton Bastos, o "Se você jurar". Foi gongado, mas insistiu e e voltou novamente ao mesmo programa; aí cantando o belo samba de Noel Rosa, "Filosofia", que lhe abriu as portas das rádios e ao mesmo tempo serviu como mote para suas composições futuras.

O mergulho que o sambista faria na linguagem, suas construções linguísticas, pontuadas pela escolha exata do ritmo da fala paulistana, iria na contramão da própria história do samba. Os sambistas sempre procuraram dignificar sua arte com um tom sublime, o emprego da segunda pessoa, o tom elevado das letras, que sublimavam a origem miserável da maioria, e funcionavam como a busca da inserção social. Tudo era uma necessidade urgente, pois as oportunidades de ascensão social eram nenhumas e o conceito da malandragem vigia de modo coercitivo. Assim, movidos pelos mesmos desejos que tinha Adoniran de se tornar intérprete e não compositor, e a partir daí conhecido, os compositores de samba, entre uma parceria vendida aqui e outra ali, deram o testemunho da importância que a linguagem assumiu como veículo social.

Mas a escolha de Adoniran foi outra, seu mergulho também outro. Aproveitando-se da linguagem popular paulistana – de resto do próprio país – as músicas dele eram o retrato exato desta linguagem e, como a linguagem determinavam o próprio discurso, os tipos humanos que surgiram deste discurso representaram um dos painéis mais importantes da cidadania brasileira. Os despejados das favelas, os engraxates, a mulher submissa que se revolta e abandona a casa, o homem solitário, social e existencialmente solitário, estão intactos nas criações de Adoniran, no humor com que descreve as cenas do cotidiano. A tragédia da exclusão social dos sambistas se revelou como a tragicômica cena de um país que subtraia de seus cidadãos a dignidade.

O seu primeiro sucesso como compositor virou canção obrigatória das rodas de samba, das casas de show: Trem das Onze. É bem possível que todo brasileiro conheça, senão a música inteira, ao menos o estribilho, que se torna intemporal. Adoniran alcançou, então, o almejado sucesso que, entretanto, durou pouco e não lhe rendeu mais que uns minguados trocados de direitos autorais. A música, que já havia sido gravada pelo autor em 1951 e não fizera sucesso ainda, foi regravada novamente pelos “Demônios da Garoa”, conjunto musical de São Paulo (conhecida como a terra da garoa, da neblina, daí o nome do grupo). Embora o conjunto fosse paulista, a música aconteceu primeiramente no Rio de Janeiro. E aí sim, o sucesso foi retumbante.

Como acontecera com os programas escritos por Osvaldo Moles, que deram a Adoniran a medida exata da estética a ser seguida, o samba inspirou Osvaldo a criar um quadro para a rádio, que se chamava História das Malocas, com um personagem, que faz sucesso, o Charutinho. De novo ator, Adoniran, tendo provado o sucesso como compositor, não mais se afastou da composição.

Entre a tentativa de carreira nas rádios paulistas e o primeiro sucesso, Adoniran trabalhou duro, casou-se duas vezes e frequentou, como boêmio, a noite. Nas idas e vindas de sua carreira teve de vencer várias dificuldades. O trabalho nas rádios brasileiras foi pouco reconhecido e financeiramente instável, muitos passaram anos nos seus corredores e tiveram um fim de vida melancólico e miserável. O veículo que encantou multidões, que fez de várias pessoas ídolos foi também cruel como a vida; passado o sucesso que, para muitos, seria apenas nominal, o ostracismo e a ausência de amparo legal levou vários cantores, compositores e atores a uma situação de impensável penúria.

Adoniran sabia disto, mas mesmo assim seu desejo calava mais fundo. O primeiro casamento não durou um ano; o segundo, a vida toda: Matilde. De grande importância na vida do sambista, Matilde sabia com quem convivia e não só prestigiou sua carreira como o incentivou a ser quem foi e como era, boêmio, incerto e em constante dificuldade. Trabalhou também fora e ajudou o sambista nos momentos difíceis, que foram constantes. Adoniran viveu para o rádio, para a boêmia e para Matilde.

Numa de suas noitadas, de fogo, perdeu a chave de casa e não houve outro jeito senão acordar Matilde, que se aborreceu. O dia seguinte foi repleto de discussão, mas Adoniran era compositor e dando por encerrado o episódio, compõe o samba Joga a chave.

Dono de um repertório variado de histórias, o sambista não perdia a vez de uma boa blague. Certa vez, quando trabalhava na rádio Record, onde ficou por mais de trinta anos, resolveu, após muito tempo ali, pedir um aumento. O responsável pela gravadora disse-lhe que iria estudar o aumento e que Adoniran voltasse em uma semana para saber dos resultados do estudo... quando voltou, obteve a resposta de que seu caso estava sendo estudado. As interpelações e respostas, sempre as mesmas, duraram algumas semanas... Adoniran começava se irritar e, na última entrevista, saiu-se com esta: “Tá certo, o senhor continue estudando e quando chegar a época da sua formatura me avise..”

Nos últimos anos de vida, com o enfisema avançando, e a impossibilidade de sair de casa pela noite, o sambista dedicou-se a recriar alguns dos espaços mágicos que percorreu na vida. Gravou algumas músicas ainda, mas com dificuldade – a respiração e o cansaço não lhe permitiam muita coisa mais – dá depoimentos importantes, reavaliando sua trajetória artística e passou a compor pouco.

Inventou para si uma pequena arte, com pedaços velhos de lata, de madeira, movidos a eletricidade. São rodas-gigante, trens de ferro, carrosséis. Vários e pequenos objetos da ourivesaria popular – enfeites, cigarreiras, bibelôs... Fiel até o fim à sua escolha, às observações que colhe do cotidiano, criaram um mundo mágico.

Adoniran Barbosa morreu em 1982, aos 72 anos de idade.

Principais composições
Malvina, 1951
Saudosa maloca, 1951
Joga a chave, 1952
Samba do Arnesto, 1953
As mariposas, 1955
Iracema, Adoniran Barbosa, 1956
Apaga o fogo Mané, 1956
Bom-dia tristeza, 1958
Abrigo de vagabundo, 1959
No morro da Casa Verde, 1959
Prova de carinho, 1960
Tiro ao Álvaro, 1960
Luz da light, 1964
Trem das onze, 1964
Trem das Onze com Demônios da Garoa, 1964
Aguenta a mão, 1965
Samba italiano, 1965
Tocar na banda, 1965
Pafunça, 1965
O casamento do Moacir, 1967
Mulher, patrão e cachaça, 1968
Vila Esperança, 1968
Despejo na favela, 1969
Fica mais um pouco, amor, 1975
Acende o candeeiro, 1972