segunda-feira, 29 de abril de 2013

João Gilberto


João Gilberto Prado Pereira de Oliveira, nascido aos 10 de junho de 1931 em Juazeiro - BA e falecido aos 06 de julho de 2019, foi um cantor, violonista e compositor brasileiro. Tido como o pioneiro criador da bossa nova, é considerado um gênio e uma lenda viva da música popular brasileira. Desde o lançamento do compacto que continha Chega de Saudade e Bim Bom, munido apenas da voz e do violão, começou uma revolução na música brasileira1 e na música mundial, não só pela famosa "batida da bossa nova". Dono de uma sonoridade original e moderna até hoje, João Gilberto foi o artista que levou a música popular brasileira ao mundo, principalmente para os Estados Unidos, Europa e Japão. Tido como um dos maiores influentes do jazz americano no século XX, ganhou prêmios importantes nos Estados Unidos e na Europa, como o Grammy, em meio a beatlemania. Seus shows, quando anunciados, têm os ingressos esgotados nas primeiras horas de venda. É um dos poucos artistas no mundo que podem gravar o que quer, quando quer , além de ser admirado por grandes nomes da música brasileira e mundial, como Caetano Veloso, Miles Davis, Eric Clapton. Tratado como um revolucionário na música, sua inovação estética é, ao mesmo tempo, uma continuidade da linha evolutiva da música popular brasileira, fiel à tradição do samba. 

Filho de Juveniano Domingos de Oliveira, um próspero comerciante, e Martinha do Prado Pereira de Oliveira, João, conhecido na época como Joãozinho da Patu, nasceu em Juazeiro, sertão da Bahia, nas margens do Rio São Francisco. Lá, viveu na cidade até 1942, quando passou a estudar em Aracaju, Sergipe, sempre tocando na banda escolar: tambor, marcação e caixa. Em 1946, voltou a Juazeiro, onde teve a oportunidade de escutar de Orlando Silva, Dorival Caymmi e Carmen Miranda a até Duke Ellington, Tommy Dorsey e Charles Trenet nos alto-falantes da cidade. Além disso, teve contato com música em casa, já que seu Juveniano tocava cavaquinho e saxofone como amador, além de incentivar financeiramente a Banda de Música 22 de Março. Nessa época, João costumava formar conjuntos vocais com os colegas de escola. Desde pequeno, João mostrou que possuía um ouvido privilegiado. Aos sete anos, percebeu um erro na execução da organista da igreja em meio às dezenas de vozes do coro. Aos 14 anos, ganhou seu primeiro violão do pai, que aprendeu a tocar pelo Método Elementar Turuna, o primeiro que lhe caiu em suas mãos. Ainda em Juazeiro, formou um conjunto vocal chamado Enamorados do Ritmo com os amigos Waltinho, Pedrito e Alberto, com João como líder e arranjador. Seu maior ídolo na época era Orlando Silva, em quem se espelhava para cantar. 

Em 1947, aos 16 anos, João vai à capital do estado, Salvador, para terminar o ginásio num internato. Aos 18 anos, em Salvador, começa a vida de artista no cast da Rádio Sociedade da Bahia, onde chegou a gravar com orquestra. Aos 19 anos, em 1950, João Gilberto chegou ao Rio de Janeiro, chamado para integrar o conjunto vocal Garotos da Lua. Com a entrada no grupo, João atua na Rádio Tupi, onde conheceu João Donato. Com o destaque na rádio, no ano seguinte, gravou, junto aos Garotos da Lua, dois discos de 78 rpm. João era tratado como joia no grupo, mas, por outro lado, já pensava em uma carreira solo. Assim, alguns meses depois, João deixa do grupo e grava um disco solo em 1952 para a gravadora Copacabana. Nesse disco, percebe-se a ausência do violão, além de que seu canto lembra Orlando Silva em seu auge, com o uso de vibratos, a divisão das palavras e o "sentimento". Entretanto, o estilo de Orlando já era antiquado à época - o público demandava um estilo mais moderno, compartilhado por Dick Farney e Lúcio Alves. Na época, João namorava a futura cantora Sylvia Telles. Oportunidades surgiram e Lúcio Alves sugeriu a Rádio Nacional que João gravasse um acetato contendo "Just one more chance", de Sam Coslow e Arthur Johnson em versão de Haroldo Barbosa chamada "Um minuto só". 

Em 1953, teve sua primeira composição gravada, "Você esteve com meu bem", parceria com Russo do Pandeiro, na voz de Marisa Gata Mansa, sua namorada à época. "Você esteve com meu bem" teve a orquestra do maestro Gaya e João ao violão, ainda sem a famosa batida da bossa nova. Nessa época, conheceu Johnny Alf, Tom Jobim e Vinicius de Moraes em suas visitas às boates do Rio. Chegara a gravar alguns jingles no estúdio de Russo do Pandeiro, como um para a Toddy, de letra "Eu era um garoto magricelo/ Muito feio e amarelo.// Toddy todo dia ele tomou/ Engordou e melhorou/ Forte ficou.// As garotas agora me chamam bonitão/ No esporte eu sou campeão". Tocava também em festas da sociedade, com cachês irrisórios. Em 1954, João conheceu Carlos Machado, o Rei da Noite, e com ele consegue participar do show "Esta vida é um carnaval", na boate Casablanca, com participação de Grande Otelo, Ataulfo Alves, a bateria da Império Serrano, entre outros artistas. João cantava em coro em uma cena e em outra cantava como solista um samba de Sinhô, "Recordar é viver", além de fazer pequenas aparições teatrais. O espetáculo foi um sucesso de crítica e público. Nesse mesmo ano, se juntara ao conjunto Quitandinha Serenaders. No grupo, conheceu Luiz Bonfá, Alberto Ruschel e Luís Telles, que se tornou um grande amigo de João. Chegou a integrar o conjunto Anjos do Inferno, em uma temporada paulista. Tocaram numa boate no Largo do Arouche, mas João logo saiu do grupo. A consagração, no entanto, não viria a João ainda nestes anos.

Discografia

Álbuns de estúdio

  • Chega de Saudade (Odeon, 1959) LP
  • O Amor, o Sorriso e a Flor (Odeon, 1960) LP
  • João Gilberto (Odeon, 1961) LP
  • Getz/Gilberto (Verve, 1964) LP
  • João Gilberto en México (Orfeon, 1970) LP
  • João Gilberto (Polydor, 1973) LP
  • The Best of Two Worlds (CBS, 1976) LP
  • Amoroso (Warner/WEA, 1977) LP
  • Brasil (WEA, 1981) LP
  • João (PolyGram, 1991) CD
  • João Voz e Violão (Universal/Mercury, 2000) CD

Singles

  • Quando Ela Sai (Alberto Jesus/Roberto Penteado)/Meia Luz (Hianto de Almeida/João Luiz) – (Copacabana, 1952) 78 rpm
  • Chega de Saudade/Bim Bom - (Odeon, 1958) 78 rpm
  • Desafinado/Hô-bá-lá-lá – (Odeon, 1958) 78 rpm

EP

  • João Gilberto Cantando as Músicas do Filme Orfeu do Carnaval (Odeon, 1959) 45 rpm

Coletâneas

  • Bossa Nova at Carnegie Hall (Audo Fidelity, 1982) LP
  • Herbie Mann & João Gilberto (Atlantic, 1965) LP
  • Gilberto and Jobim (Capitol, 1977) LP
  • Interpreta Tom Jobim (EMI/Odeon, 1985) LP
  • O Mito (Emi/Odeon, 1988) LP
  • The Legendary João Gilberto (Capitol/World Pacific, 1990) CD
  • Amoroso/Brasil (WEA) CD
  • Best of João Gilberto: Portrait de bossa nova (Universal, 2003) CD
  • For Tokyo (Universal, 2007) CD

Álbuns ao vivo

  • Getz/Gilberto #2 (Verve, 1966) LP
  • João Gilberto Prato Pereira de Oliveira (Verve, 1966) LP
  • Live at the 19th Montreux Jazz Festival (WEA, 1986) LP
  • Eu sei que vou te amar (Epic, 1994) CD
  • João Gilberto live at Umbria Jazz (EGEA, 2002) CD
  • João Gilberto in Tokyo (Universal Music, 2004) CD
 Fonte e biografia completa em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Gilberto

domingo, 21 de abril de 2013

Billy Blanco


William Blanco Abrunhosa Trindade, nascido aos 8 de maio de 1924 em Belém - PA e falecido aos 8 de julho de 2011 no Rio de Janeiro - RJ, foi um arquiteto, músico, compositor e escritor brasileiro. Atraído pela música desde criança, quando começou a compor tinha cuidado ao escrever seus sambas, com letras elaboradas, assuntos e composições das canções. Nos anos 1940, quando cursava o segundo ano de Engenharia, foi para São Paulo, para fazer o curso de Arquitetura, e ingressou no Mackenzie College em 1946. Foi para o Rio de Janeiro, e estudou na Faculdade de Arquitetura e Belas Artes, em 1948. Graduou-se em 1950 em Arquitetura. 

Tinha um estilo próprio, descrevendo os acontecimentos a sua volta, com humor ou no gênero de exaltação, falando de amor e das desilusões; onde seu samba sincopado, que fugia da cadência vigente do estilo, passou a chamar a atenção dos cantores da época. Sua primeira composição foi "Pra Variar", em 1951. Nos anos 1950 e 1960 seus sucessos foram gravados por Dick Farney, Lúcio Alves, João Gilberto, Dolores Duran, Sílvio Caldas, Nora Ney, Jamelão, Elizeth Cardoso, Dóris Monteiro, Os Cariocas, Pery Ribeiro, Miltinho, Elis Regina e Hebe Camargo. Seu primeiro sucesso foi "Estatutos da Gafieira", na voz de Inezita Barroso, em gravação da RCA Victor de 1954. Entre seus parceiros estiveram Baden Powell, em "Samba Triste", Tom Jobim, em "Sinfonia do Rio de Janeiro" (suíte popular em ritmo de samba, de 1960) e João Gilberto, em "Descendo o Morro" e "A Montanha/O Morro", onde os dois doutores do asfalto homenageiam o samba de gente simples e de favela. Foram 56 parcerias com o violonista Sebastião Tapajós e com outros compositores, num total de quinhentas músicas, sendo que trezentas já gravadas. 

Entre seus sucessos destacam-se "Sinfonia Paulistana", "Tereza da Praia", "O Morro", "Estatuto da Gafieira", "Mocinho Bonito", "Samba Triste", "Viva meu Samba", "Samba de Morro", "Pra Variar", "Sinfonia do Rio de Janeiro" e "Canto Livre". "Sinfonia do Rio de Janeiro" é composta por dez canções, escritas em parceria com Tom Jobim, em 1960. As canções que formam a suíte são "Hino ao Sol", "Coisas do Dia", "Matei-me no Trabalho", "Zona Sul", "Arpoador", "Noites do Rio", "A Montanha", "O Morro", "Descendo o Morro" e "Samba do Amanhã". "Sinfonia Paulistana" foi concluída em 1974, depois de dez anos de trabalho. É composta por quinze canções, cantadas por Elza Soares, Pery Ribeiro, Cláudia, Claudette Soares, Nadinho da Ilha, Miltinho e pelo coro do Teatro Municipal de São Paulo. A produção foi de Aloysio de Oliveira, com orquestra regida pelo maestro Chico de Moraes. As músicas se chamam "Louvação de Anchieta", "Bartira", "Monções", "Tema de São Paulo", "Capital do Tempo", "O Dinheiro", "Coisas da Noite", "O Céu de São Paulo", "Amanhecendo", "O Tempo e a Hora", "Viva o Camelô", "Pro Esporte", "São Paulo Jovem", "Rua Augusta" e "Grande São Paulo". Em "Monções, destaca-se o carimbó épico, e em "O Tempo e a Hora", a fusão entre bossa e pop. O jornal O Estado de S. Paulo definiu o refrão de "Tema de São Paulo" como o "que mais define o paulistano". Desde o ano em que foi concluída a suíte, essa música, a mais famosa da suíte, faz parte da trilha sonora do Jornal da Manhã, noticiário matutino da Rádio Jovem Pan. Depois de passar uma temporada no Forte de Copacabana durante a ditadura brasileira, Billy Blanco compôs "Canto Livre". 

Estava em plena atividade dedicando-se a música gospel, até sofrer um derrame e ser internado no Rio de Janeiro no segundo semestre de 2010. Apesar do quadro estável, em dezembro ainda não conseguia se comunicar oralmente. Em 8 de julho de 2011 o cantor e compositor morreu, aos 87 anos. Ele estava internado desde o AVC. Em 2012, foi homenageado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, emprestando seu nome para o Mergulhão Billy Blanco, obra no Trevo das Palmeiras (também conhecido como Cebolão), na Barra da Tijuca.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Emílio Santiago - Despedida aos 66 anos


O cantor Emílio Santiago, 66 anos, morreu às 6h30 desta quarta-feira (20), no Rio de Janeiro. Ele estava internado no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do Hospital Samaritano, no bairro de Botafogo, devido a complicações causadas por um AVC (Acidente Vascular Cerebral). O cantor havia sido internado no hospital no dia 7 de março, com um quadro de AVC isquêmico. O velório acontece a partir das 12h desta quarta, na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. O espaço foi cedido pelo prefeito da cidade, Eduardo Paes. O enterro será na quinta-feira (21), no Memorial do Carmo, às 11h. O último disco de Emílio Santiago foi Só Danço Samba (Ao Vivo), lançado em 2012.

Figura carismática e querida por todo o meio artístico, interpretou como poucos o cancioneiro popular brasileiro, dando alma à tantas composições de famosos compositores brasileiros. Aproveito este espaço para manifestar minha sincera homenagem a esta figura extraordinária que nos deixa precocemente. O Brasil, hoje, fica mais triste e empobrecido, pela perda deste homem de bem e desta voz única. Vá em paz Emílio, e que os espíritos de luz o recebam no plano espiritual com muito amor.

sábado, 16 de março de 2013

Dolores Duran


Adiléia Silva da Rocha, nascida aos 7 de junho de 1930 na cidade do Rio de Janeiro - RJ e falecida, também na cidade do Rio de Janeiro em 24 de outubro de 1959, foi uma cantora e compositora brasileira, cujo nome artístico era Dolores Duran. Nasceu numa vila na rua do Propósito, no Centro do Rio de Janeiro, onde morou por alguns anos. Teve uma infância pobre e não conheceu o pai. Mudou-se para um cortiço no bairro da Piedade, subúrbio carioca, com a mãe, o padrasto e as irmãs Denise, Solange e Leila. Desde criança gostava de cantar e sonhava em ser cantora famosa. Aos 8 anos de idade contrai a febre reumática, que quase a levou a morte, e que deixou como sequela um sopro cardíaco gravíssimo. Por pouco ela não resiste, para desespero de sua mãe. 

Aos doze anos de idade, influenciada pelos amigos, resolve, com a permissão da mãe, se inscrever num concurso de cantores, mas ela tinha dúvidas se iria se sair bem. Surpreendentemente, ela cantou muito bem, como uma profissional e conquistou o primeiro prêmio no programa Calouros em Desfile, de Ary Barroso. As apresentações no programa tornaram-se frequentes, fixando-a na carreira artística. Nesta ocasião ela teve que abandonar os estudos, parando no ensino primário, para ajudar a mãe com despesas de casa. Arranja um emprego e passa a trabalhar como atriz nas rádios Cruzeiro do Sul, nos programas da Tupi e no teatro, além de cantar em programas de tv, mas todos esses empregos eram temporários, o que não garantia dinheiro certo. 

Adiléia tenta terminar os estudos, ingressando no ginásio, pagando uma escola, mas como o dinheiro era pouco e as mensalidades da escola estavam atrasadas, ela é expulsa do colégio. Como ela tinha que se dedicar muito a música e ao teatro, ela decide de vez parar de estudar. Sua mãe não gosta desta atitude e mesmo após brigas, a mãe, a contra gosto, tenta aceitar a vocação de cantora da filha, já que a mãe dizia que artistas também estudavam e que a fama acaba um dia. Adiléia tinha uma personalidade muito forte e não levava desaforos para casa, respondia a quem quer que fosse, sabia se defender bem. 

No final dos anos 40, ela conhece um casal rico e influente: Lauro e Heloísa Paes de Andrade, que já a tinham ouvido cantar. Eles passam a ajudá-la a se tornar realmente uma cantora e a levam em diversos lugares chiques e reconhecidos, frequentado por famosos. Lauro passa a chamá-la de Dolores Duran, por ser um nome fino na época. Esse nome é espanhol e dramático que significa Dores. Ele é muito forte e traz uma carga de dor e sofrimento intenso, e o sobrenome Duran, que quer dizer durante, sempre, intensifica ainda mais, como se não tivesse fim essa dor. 

Sem nunca ter estudado línguas, aprendeu sozinha a cantar em inglês, francês, italiano, espanhol e até em esperanto. Ella Fitzgerald durante sua passagem pela bela cidade do Rio de Janeiro, nos anos 1950, foi à boate Baccarat especialmente para ouvir Dolores e entusiasmou-se com a interpretação de Dolores para My Funny Valentine - a melhor que já ouvira, declarou Fitzgerald. O jornalista Antônio Maria foi um dos melhores amigos da cantora, e escrevia publicações sobre ela. Suas músicas se tornaram estrondoso sucesso. Eram dramáticas, belas e românticas, e expressavam os sentimentos mais puros de um coração. Prova disso é que Antônio Maria publicou: "Dolores Duran falou de sentimentos como ninguém, em todas as línguas. Seu idioma era o amor!" Cantava em diversas boates no boêmio e encantador Rio de Janeiro daquela época. Sua fama se espalhou e foi contratada pela Rádio Nacional, uma das várias rádios cariocas que reuniam artistas do país inteiro, e que na época só escolhia os melhores cantores. Era a rádio mais disputada. Qualquer artista brasileiro, para fazer sucesso, tinha que vir ao Rio de Janeiro, capital política e cultural do Brasil, para se lançar. 

Ela jamais estudou canto e música, mas sua voz não precisava de correção através de aulas. Parecia mesmo que ela tinha nascido para cantar. Nessa época seu padrasto morre e sua família enfrenta grandes dificuldades. Passou a cantar músicas internacionais no programa Pescando Estrelas, onde só havia cantoras jovens e conceituadas. Lá ela conhece e se torna melhor amiga da cantora da importante Rádio Guanabara e da famosa Rádio Nacional, Julie Joy. Teve muitos namorados. O primeiro que teve foi um garçom da boate Vogue. O apelido dele era Serra Negra. O namorou por alguns poucos meses. Ele pediu para voltar, mas como ela era mulher de uma palavra só, não voltou. Viu que não deu certo na primeira vez, na segunda sairiam brigas novamente. Depois dele, namorou por 6 meses o compositor Billy Blanco, de quem também gravou músicas, já que ele escrevia várias letras. Nessa época compôs junto com Tom Jobim o samba O negócio é amar, que fez grande sucesso. Nara Leão interpretou a canção. Nesse período já estava famosa, distribuía autógrafos pela rua, onde ia a entrevistavam e tiravam fotos suas. Gostava de futebol e frequentava o famoso estádio do Maracanã, onde assistiu a Copa de 1950. Também ia muito nas maravilhosas praias cariocas e nos badalados cinemas. 

A década de 1950 se iniciou marcante para Dolores, que passou a cantar nas sofisticadas boates do famosíssimo Hotel Glória. Em 1951, conhece um músico do Acre, tocador de acordeon, chamado João Donato. Eles se encontravam em frente ao Hotel Glória todas as noites. Dolores, João e Julie eram grandes amigos, sempre saíam juntos e passeavam, também com outros colegas. Só não se casaram devido à oposição da família do rapaz e do preconceito da sociedade. Donato tinha 17 anos, enquanto Dolores tinha 21 e uma mulher mais velha não era bem vista com um homem mais novo. Ela lutou muito para tê-lo ao seu lado, mas ele preferiu ouvir sua família. O namoro chegou ao fim quando Donato foi morar no México. Donato e Dolores não aguentavam mais brigas e cobranças de suas famílias. Isso a fez sofrer, mas ela superou e seu sucesso na música aumentou. 

A estreia de Dolores em disco foi em 1952, chamado Músicas para o Carnaval, gravando dois sambas para o Carnaval do ano seguinte: Que bom será (Alice Chaves, Salvador Miceli e Paulo Márquez) e Já não interessa (Domício Costa e Roberto Faissal). Em 1953, gravou Outono (Billy Blanco), e Lama (Paulo Marquez e Alice Chaves). Dois anos depois, vieram as canções Canção da volta (Antônio Maria e Ismael Neto), Bom querer bem (Fernando Lobo), Praça Mauá (Billy Blanco) e Carioca (Antônio Maria e Ismael Neto). Muitas vezes, nas madrugadas, ela criava suas letras na mesa dos bares, bebendo e fumando, ouvindo canções de bolero, salsa, choro e samba. Se inspirava em seus casos amorosos e na sua vida em geral, suas alegrias, tristezas, dores, anseios e mágoas, para compor suas inesquecíveis letras. Em 1955 foi vítima de um infarto, tendo passado trinta dias internada no hospital Miguel Couto. Dolores resolveu não seguir as restrições que os médicos lhe determinaram, agravando os problemas cardíacos que trazia desde a infância, problemas que só se agravaram com o tempo, pois abusava do cigarro (fumava mais de três carteiras por dia) e da bebida, principalmente a vodca e o uísque. Com isso, a depressão passou a marcar sua vida. Mesmo famosa e amada por milhares de fãs, se sentia triste, um vazio lhe tomava conta e com isso, buscava refúgio na bebida e no cigarro. Nesse mesmo ano, conheceu o cantor e compositor Macedo Neto, de quem gravou diversos sambas. Os dois se conheceram nos estúdios da gravadora Copacabana e rapidamente foram morar juntos. Antes de se casarem no papel, porém, Dolores engravidou dele e passou por uma gravidez tubária (gravidez de alto risco que acarreta esterilidade materna e perda do feto), interrompendo seu sonho de ser mãe, o que arruinou sua vida e a levou a piora do vício em cigarro e bebidas. Um fato que a marcou foi que após ter perdido seu filho, ter entrado em depressão e resolvido se casar oficialmente com Macedo, ele proibiu sua mãe de comparecer ao casamento deles, por a mãe dela ser negra, fato que a deixou perplexa e enfurecida. A única que foi ao seu casamento foi a irmã Denise, pois sua mãe e suas outras irmãs não conseguiram ir por tamanha ofensa. Dolores só se casou para não se sentir tão só, pois nunca perdoou o marido por não ter deixado sua mãe ir ao seu casamento. Em 1958, após muitas discussões e brigas violentas, desquitou-se de Macedo Neto e passou meses na Europa cantando e se apresentando com seu conjunto musical, fazendo muito sucesso. Lá encontrou e viveu novos e intensos amores. 

Em 1956, fez sucesso com a canção Filha de Chico Brito, composta por Chico Anysio. No ano seguinte, um jovem compositor apresentou a Dolores uma composição dele e de Vinícius de Moraes. Tratava-se de Antônio Carlos Jobim em início da carreira. Em três minutos, Dolores pegou um lápis e compôs a letra da canção "Por Causa de Você". Vinícius ficou encantado com a letra e gentilmente cedeu o espaço a Dolores. Foi revelado, a partir daí, o talento de Dolores para a composição e grandes sucessos, como Estrada do Sol, Ideias Erradas, Minha Toada e A Noite do Meu Bem, entre outros. Cantou no Uruguai, na União Soviética e na China, na companhia de músicos brasileiros, mas, por desentendimento dela com o grupo, Dolores muda de planos e realiza seu grande sonho, viajando da China sozinha para Paris. Ficou um bom tempo passeando e conhecendo as maravilhas da cidade-luz, a bela e encantadora Paris. De volta ao Brasil algum tempo depois, pegou para criar uma recém-nascida, pobre e negra, a quem deu nome de Maria Fernanda da Rocha Macedo, que foi registrada por Macedo Neto, mesmo estando ele separado de Dolores e a menina não ter com ele qualquer parentesco. A mãe biológica de Maria Fernanda era viúva e havia falecido após o parto pois não aguentou a emoção de ter perdido o marido, padrasto da menina, que foi uma das vítimas da pior tragédia em trens suburbanos do Rio de Janeiro. A bebê iria ficar com a empregada de Dolores, amiga da mãe da criança, mas por ela ser muito pobre, acabou entregando a neném para Dolores, que se encantou perdidamente pela criança e deu todo amor e carinho possíveis. Passeava com a menina e lhe deu tudo de bom que o dinheiro e o amor podiam proporcionar. 

A partir daí, durante os dois últimos anos de vida, compôs algumas das mais marcantes canções da MPB, como Castigo e Olha o Tempo Passando, entre tantas outras. Na madrugada de 23 de outubro de 1959, depois de um show na boate Little Club, a cantora saiu com seu último namorado, chamado Nonato Pinheiro e com seus amigos para uma festa no requintado Clube da Aeronáutica. Ao sair da festa, resolveram fechar a noite bebendo e ouvindo canções no Kit Club. A cantora chegou em casa às sete da manhã do dia 24. Brincou e beijou muito a filha, já com 3 anos, na banheira. Em seguida, passou os últimos cuidados à empregada Rita: "Não me acorde. Estou cansada. Vou dormir até morrer", disse brincando. No quarto, sofreu um infarto fulminante - que, à época, foi associado a uma dose excessiva de barbitúricos, cigarros e álcool. Encontra-se sepultada no Cemitério do Caju no Rio de Janeiro. A morte prematura de Dolores Duran, aos 29 anos, interrompeu uma trajetória vivida intensamente. A amiga Marisa Gata Mansa levou os últimos versos de Dolores para Ribamar musicá-los. Carlos Lyra fez o mesmo sobre os versos inéditos. O ex-marido criou a filha adotiva deles. 

Dolores Duran foi um grande expoente, como cantora e compositora, do gênero samba-canção, surgido na década de 1930. Além dela, destacam-se nesse gênero Maysa Matarazzo, Nora Ney, Dalva de Oliveira e Ângela Maria. O gênero samba-canção, pode ser comparado ao bolero pela exaltação do amor-romântico ou pelo sofrimento por um amor não realizado. O samba-canção antecedeu o movimento da bossa nova, surgido ao final da década de 1950. Mas este último, um amálgama do jazz norte-americano com o samba do Rio de Janeiro, representou um refinamento e uma maior leveza nas melodias e interpretações, que substituíram o drama pessoal e as melodias melancólicas.